quarta-feira, 25 de maio de 2011

Uma teoria científica não é opinião

Irei abordar por aqui o conceito de teoria científica, tantas vezes apontado como uma fragilidade da ciência, uma vez que as teorias mudam e se são teorias, não são leis. Esta é uma perspectiva profundamente deturpada, pois essa capacidade de mudança é uma das principais virtudes da ciência, mas isso fica para outra altura.

Por agora fica uma visão artistica desta ideia, através dos They Might Be Giants, um grupo Americano da década de 80 ainda no activo hoje, que tem diversas canções, 3 numa escala de 5 a nível artístico, cuja particularidade é focarem-se muitas vezes numa mensagem científica.

Irei colocar várias das suas canções aqui. Esta é a primeira e escolhi-a não por ser a melhor, mas porque fala do que é a ciência e nas suas bases.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Apple e a religião

Um recente documentário da BBC – Segredos das Supermarcas – apresentava diversas conclusões sobre o funcionamento do cérebro, obtidas com base em imagens de Ressonância Magnética, que evidenciavam que os produtos da Apple e de outras Supermarcas geravam para os fãs mais fervorosos dessas marcas, um estímulo nas mesmas zonas do cérebro, que os símbolos religiosos produziam nas pessoas crentes.
É interessante, mas não é surpreendente esta conclusão! Se observarmos os comportamentos do dia a dia, vemos que há ligações poderosas e que são por vezes marcadas por muita irracionalidade. É inútil contrapor vantagens do Windows ou Linux, a um superadepto do Mac OS. É inútil tentar explicar que aquele golo entrou mesmo um metro na baliza, a um fanático da equipa oposta. É tarefa quase inglória tentar demonstrar que não há evidências da existência de Deus, para um zelota da fé.
Este estado de semi ou completa irracionalidade é algo a que as marcas aspiram e muitas investem toda uma estratégia de Marketing, na construção de uma ligação mais centrada em associação de estilos de vida ou de pertença a um grupo ou credo.

Por exemplo uma marca que consegue gerar uma legião de fãs, que chegam a tatuar permanentemente o seu símbolo no corpo, tem certamente no mercado vantagens, sobre aquela marca que vende produtos de reconhecida qualidade mas que são incapazes de gerar paixões, resultando algo anódinos perante tão forte ligação emocional. Nada que as religiões não explorem há séculos, embora aí entrem factores adicionais, como o medo ou a ideia de pecado, que são factores com um potencial manipulador mais elevado, mas que estão vedados às marcas.

Mas porque é que existem este tipo de comportamentos? E porque é que é tão frequente, mesmo em pessoas esclarecidas e inteligentes, acreditarem em explicações metafísicas, sobrenaturais, transcendentes, religiosas? Bruce Hood, Professor e Director do Centro de Desenvolvimento Cognitivo da Universidade de Bristol, apresenta algumas explicações no seu livro – Supersense: Why we believe in the unbelievable. A Evolução parece ter dotado os seres humanos de um sentido de procura padrões, que lhe garantiu vantagens competitivas na forma como superou dificuldades e se antecipou a ameaças, mas que deixou resíduos na necessidade de um propósito e, em consequência, na procura de figuras de messiânicas, com autoridade e com capacidade de serem uma referência e nos guiarem.

Parece assim que o sobrenatural é muito natural, pois esse maravilhoso órgão de 1500 gramas, que nos consome mais de 20% da nossa ração diária de energia, tem uma complexidade que só recentemente começámos a sondar. Isso não quer dizer que nos devamos render a essa natureza, pois esse mesmo cérebro também encerra em si capacidade de racionalização, que nos trouxe o desenvolvimento e conhecimento actuais. Há pois, que olhar as coisas com uma perspectiva racional, pelo menos em assuntos mais importantes do que a preferência por uma dada marca ou clube e não aceitarmos sem evidências fortes, as explicações que nos derem, principalmente quando estas forem extraordinárias e sem grande aderência ao que observamos no dia a dia.

Termino com uma Ode a esta massa cinzenta que, com o tempo, será certamente capaz de se desvendar a ela própria!

sábado, 14 de maio de 2011

Espiritualidade

Aproximo-me de casa, já noite feita. Não entro, fico cá fora. Está tudo muito sereno. Corre uma leve brisa, suficiente para fazer girar o aerogerador, mas sem força que leve as pás a fazerem-se ouvir. Na penumbra vislumbro vultos. Deixo adaptar a retina e já consigo perceber que são as ameixoeiras, as macieiras, um pouco mais despidas, e os sobreiros, bastante mais imponentes. Contorcem-se numa dança. Uma dança muito suave, pois a brisa não as deixa expressarem-se como estão habituadas. As árvores do Oeste estão habituadas a coreografias violentas, mas hoje não!

Uma miríade de sons modela uma paisagem sonora. Nesta orquestra telúrica, a coruja faz de barítono, os sapos – muitos sapos mesmo –, assumem uma preponderância de tenor. Vêm de várias direcções, como os grilos, que também não deixam distinguir de onde se manifestam. Cães, ouvem-se também vários e, apesar de mais longínquos, é fácil perceber as origens. Não há muitos sons femininos nesta construção sonora, mas ao longe, ainda consigo distinguir um meio-soprano. Parece-me uma cotovia. Enfim, não sei se é uma cotovia; não sei mesmo se sei como é o som da cotovia. Mas quando os meus filhos eram bebés cantava-lhes uma canção –“…ao luar, canta a cotovia…”.

Está um belo luar, logo é uma cotovia… Sim, está mesmo um belo luar! Não está céu limpo, as nuvens são até bem elaboradas, mas há muito céu livre, que deixa a descoberto uma estrondosa lua em quarto crescente. Esta, já a caminho da lua cheia, enche-se de brios e vai brilhando como se já lá tivesse chegado. Vaidosa, esta lua! Tão perto, que mesmo sem luz própria, se sobrepõe às fornalhas nucleares das estrelas e não lhes dá muitas oportunidades de se deixarem ver. Mas de vez em quando, as nuvens densas abafam-lhe o esplendor e aí, olhando para o lado oposto do horizonte, consigo ver muitas estrelas. Uns minutos a adaptar o olhar e já são muitas centenas. Talvez até Milhares. Apesar de tudo não é das noites melhores para se ver a Via Láctea em todo o seu esplendor, mas o que se vê já é deslumbrante.

Espiritualidade é isto! É esta a transcendência que o Cosmos nos oferece. É fácil pensarmos num criador! É difícil pensar que não houve criador! Mas… será mesmo?


sábado, 7 de maio de 2011

Conhecimento não é opinião!!!

Há uns anos um amigo Australiano falou-me de um comediante do seu país de que ele não era um grande fã, mas que achava que se alinhava bastante com o meu sentido de humor - palavras dele. Desde então tenho acompanhado Tim Minchin em várias das suas performances (pela net). A peça que aqui coloco chama-se "Storm" e pertence a um dos seus espectáculos. Está disponível na versão ao vivo e esse texto deu agora origem a uma versão animada, que é bastante elucidativa em relação a alguns princípios científicos e à forma de distinguir conhecimento de opinião.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Medicinas Alternativas

Na 6ª feira passada estava a fazer zapping e deparei com o programa do Nicolau Breyner, "Nico à Noite". Nunca tinha visto, mas estava por lá o Medina Carreira que, num tom algo diferente da amargura habitual, dava uma entrevista mais pessoal e por aí fiquei. Seguiu-se um tal de Dr. Nuno Nina, compadre do Nicolau Breyner e licenciado em medicina bioquímica. A coisa cheirou-me a esturro, mas esperei para ver.
A entrevista só confirmou a minha primeira impressão. Tanto a medicina, como a bioquímica são coisas sérias e muito respeitáveis e até estão ligadas profundamente, mas não conhecia nenhuma licenciatura que juntasse as duas no nome e pareceu-me a estratégia típica dos vendedores de banha-da-cobra, que consiste em usar uma linguagem sofisticada e pseudo-técnica.
Umas investigações na net à posteriori, sobre o tal Dr. Nuno Nina permitiram-me concluir que a sua pretensa licenciatura não é reconhecida em Portugal (e provavelmente em lado nenhum!) e que a sua medicina é recheada, como seria de esperar, de outros epítetos: Electromedicina; quântica; energética; integrativa; informacional.

Tudo coisas lindas e impressionantes, com o único problema de não quererem dizer nada de relevante e de misturarem conceitos que fazem sentido em determinados contextos, mas são completamente disparatados noutros.
Tudo o que é quântico está na moda, desde as pulseirinhas à homeopatia. Se se diz que a ciência não explica e quando não há quaisquer evidências de sucesso que se distingam do efeito placebo, em testes sérios e com as regras que se utilizam universalmente para validar qualquer terapia, então de certeza que há uma misteriosa explicação quântica à espera de ser usada.

Falarei disto mais vezes, pois a Física Quântica é uma coisa séria e de grande importância e com presença no nosso dia a dia, mas aqui o essencial da mensagem que pretendo passar é que isto é perigoso e não sei porque é que as autoridades de saúde não impedem estas coisas. Pelo que vi nessas pesquisas que fiz, num programa do Goucha há uns anos, o tal Dr. Nina ia mais longe e exemplificava que ao reequilibrar o Sódio e o Potássio das células, repunha os níveis energéticos do organismo (a energia também faz sempre parte do vernáculo da banha-da-cobra, assim como o holístico) e tratava tudo com as suas maquinetas star wars, desde a dor de cabeça, à osteoporose, culminando com a oncologia. E, claro, para ser credível estavam lá doentes ou ex-doentes, assim tipo IURD, que, descrentes na medicina convencional, se entregavam à medicina informacional, com todos os riscos inerentes a querer tratar-se o cancro com feitiçaria.

Pelo que vi pelas imagens da suposta clínica, a coisa deve render bem. Ao menos a homeopatia é um pouco mais benigna, pois normalmente não se afoita tanto deixando as patologias mais agrestes entregues à medicina “convencional”. É que os seus comprimidos de açúcar e xaropes de água não geram tanto impacto no equilíbrio das energias, como as potentes máquinas EMDR da medicina integrativa!

Nada disto se distingue dos efeitos de placebos, conforme comprovam muitos testes por esse mundo fora e na verdade, as ditas “medicinas alternativas”, são alternativas porque não são medicina. Aqui fica uma reportagem, na TV Australiana sobre a homeopatia. Depois é só generalizar para outras banhas-da-cobra, como esta do Dr. Nuno Nina.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Bin Laden e a amoralidade do Obama

Há muito, quem defenda que a Moral tem que ter um fundo supra-humano, no sentido em que defini-la em causa própria seria uma perversão da própria Moral e só algo superior ao Homem pode ditar um conjunto de regras de conduta objectivas e absolutas, que não fiquem ao abrigo do voluntarismo e relativismo de cada indivíduo ou sociedade.


É um tema amplo que carece de vários posts para abordar convenientemente, coisa que irei fazendo ao longo do tempo. Parece-me no entanto evidente que o argumento de uma origem divina da moral, funciona mais como uma fragilidade para o ser humano do que uma força. É no ser humano que temos que encontrar soluções para resolver os problemas que nos afectam e para a definição das melhores regras de convivência entre diferentes credos, religiões, etnias, territórios, etc. E, apesar de tanta violência e intolerância que se vê pelo mundo, nunca fomos mais tolerantes do que agora e nunca se deu tanta importância à aceitação das diferenças como agora. Isso é precisamente o resultado deste processo de ajustamento iterativo, em que se compreende que o respeito pelo outro é a uma forma mais eficiente de desenvolvimento, o que significa que a moral tem que evoluir como tudo o resto, coisa que uma origem divina e dogmática não garantiria, pelo contrário, ao ser absoluta seria imutável. Como disse desenvolverei este tema mais tarde. Para já queria destacar um episódio que se passou anteontem e que, sob o ponto de vista moral, deixou muito a desejar. Falo da morte do Bin Laden e da forma como foi comunicada:

  1. Ao contrário do que estamos habituados, o Obama faz um discurso algo desastrado, em que evoca deus várias vezes, num assunto a que não deveria ser dada qualquer conotação religiosa.
Já estamos habituados a que os discursos nos EUA tenham frequentes evocações de deus e que terminem em “God Bless América”, mas num tema destes, não só se esperaria que o bom senso e tacto habituais do Obama (tão claros, por exemplo, no discurso que fez no Egipto há dois anos, que também envolvia situações delicadas) o evitassem, como deus foi evocado várias vezes completamente sem necessidade. Julgo que isto dará inevitavelmente azo a ódios acrescidos e pretextos aos que querem ver nisto um símbolo de guerra contra o Islão que naturalmente não é, ou um símbolo de arrogância e superioridade de uma religião em detrimento de outra religião que abençoa a Nação Americana, que obviamente também não é; 
  1. Segunda coisa chocante é o regozijo com que se falou da morte do dito terrorista. Claro que o Osama Bin Laden, não faz falta nenhuma à Humanidade, mas falar-se com uma naturalidade tão grande duma morte sem se explicar livre de quaisquer ambiguidades e desde o primeiro momento, que a tentativa era capturá-lo e que acidental e com o intuito de defesa que a morte aconteceu, é algo que só pode contribuir para um agudizar dos sentimentos anti-ocidentais.
É verdade que os Americanos ainda estão traumatizados com o ataque que sofreram há 10 anos e a morte do perpetrador funciona com uma saída do luto. É também verdade que a pena de morte ainda existe em diversos Estados dos EUA e portanto não há uma noção de justiça, do mesmo tipo que para os Europeus, mas mais uma vez é uma grande falta de tacto a secura com que Obama fez este anúncio. Admito que ao revelar esta dureza, possa ter tocado nas comunidades mais conservadoras e eventualmente ter melhorado bastante ao nível do seu posicionamento interno em relação às eleições do próximo ano, mas uma comunicação deste teor, iminentemente ligada às relações externas teria que ser tratada com mais cuidado e obedecer a outros valores; 
  1. Ainda mais surpreendente, ou talvez não, é que por estas bandas, o tom insensível foi replicado e os telejornais que vi abriram todos as notícias, em tom de aclamação com a morte do dito inimigo número um. Como disse o cardeal patriarca de Lisboa, D. Policarpo a este pretexto, a violência nunca é solução e relevar uma tamanha insensibilidade não vai contribuir para nada de bom nesta situação melindrosa; 
  1. Finalmente, o que dizer do que fizeram ao corpo?! Deitaram-no ao mar e não se coibiram de o dizer abertamente. Será que sou só eu a achar isto anormalíssimo. Deitar corpos à água é coisa de filme, mas mesmo tentando pensar à Americana, o que é difícil confesso, até no velho Oeste os cowboys menos abrutalhados não deixavam os corpos dos vilões abandonados no meio do deserto. Neste caso comunica-se que já não há corpo, porque foi deitado ao mar e pronto, os peixinhos e as 72 virgens que se entretenham com ele.
Será sempre inevitável que a morte do Bin Laden venha a fazer recrudescer os sentimentos anti-americanos (aliados incluídos) e a propensão para o terrorismo, mas convenhamos que esta crueza amoral só pode ter piorado as coisas. E era completamente desnecessário. Era só terem-se alterado umas palavritas…