domingo, 11 de dezembro de 2011

Rumo ao desastre - I

Terminou mal a Cimeira de Durban. Ao contrário das anteriores cimeiras climáticas, quase não se ouviu falar desta. Também ao contrário das anteriores os chefes de estado mandaram as terceiras linhas e muitos dos maiores poluidores do mundo procuraram diminuir os compromissos já assumidos em relação à redução de emissões.

O contexto da crise financeira actual torna menos mediática e menos central a discussão sobre o futuro mas os problemas não vão desaparecer ou adiar-se por causa disso, apenas a sua solução. No fim prolongou-se o protocolo de Quioto, que terminava no próximo ano e isso foi o melhor que se conseguiu. De certeza que o próximo será para reduzir compromissos e não para os reforçar.
Enquanto isso o planeta vai rumo a um aumento de 3 ou 4 graus de temperatura média até 2100 e 6 a 7 em algumas zonas do planeta. Caso se apertassem as medidas podia-se ambicionar uma subida de 1,5 a 2 graus, o que resultaria num impacto negativo muito menor. Rumo ao desastre, nada contam os fenómenos climáticos cada vez mais extremos mundo fora; Nada contam os países isolados no meio do oceano que irão desaparecer, a desertificação acelerada de zonas do planeta  já hoje deprimidas e miseráveis e nada contam  até aquelas evidências claríssimas que acontecem já hoje, como por exemplo as recorrentes grandes inundações do Oeste Asiático (lembram-se que parte da Tailândia esteve debaixo de água durante meses, este ano?).




A crise financeira que enfrentamos é muito grave e é um grande desafio global, mas há problemas de longo prazo que, se deixarmos de lutar contra eles se transformarão em crises muito mais profundas que a actual. Na economia, quando há défice a aumentar, acumula-se dívida. Além dos factores de especulação financeira, foi isso que nos colocou onde estamos. Desde 1986 o conjunto agregado dos recursos naturais é consumido acima da reposição natural. Falamos portanto de défice planetário ao nível dos recursos naturais.
Essa também será uma dívida que passará para as próximas gerações, com a diferença que nem com medidas de emergência se conseguirá pagar. A subida do nível do mar, a perda de biodiversidade, a escassez de alguns recursos e os fenómenos climáticos extremos terão um impacto na vida das pessoas, com destruições inimagináveis e um efeito no PIB, dezenas de vezes superior ao efeito da actual crise. Faça-se com esta futura crise, o que se fez com a actual ignorando-se as evidências em tempo útil e veremos…

Uma nota final para dizer que nisto tudo a Europa não sai mal pois tem compromissos assumidos superiores ao protocolo de Quioto. Infelizmente fazermos o que está bem não nos dá garantias de não sermos afectados pelos problemas, mas é importante que o façamos, pois o mal dos outros nunca deve ser justificação para que não façamos as coisas certas e acima de tudo isto cria pressão e condições negociais para se procurar que outros o façam também. O problema do clima é o mais global de todos e só acções concertadas poderão mitigá-lo.

Faltam líderes cuja visão vá além do fim da sua rua…