Hans Rosling, médico, demógrafo e conferencista extraordinário falecido há dois anos, esteve em Portugal em 2015 assinalando os 5 anos da Pordata numa conferência.
Quase
duplicou
Manteve-se
mais ou menos igual
Diminuiu
para quase metade
80%
50%
20%
Mais
do que duplicou
Manteve-se
mais ou menos o mesmo
Diminuiu
para mais de metade
9
anos
6
anos
3
anos
50
anos
60
anos
70
anos
As nossas ações são baseadas
não na realidade, mas sim na perceção que temos desta e portanto se estivermos
errados corremos o risco de ter ações erradas, formular
opiniões pouco fundamentadas, defender pontos de vista inconsistentes. E pior, muitas vezes defendê-las de forma intensa. Afinal de conta há que defender as nossas ideias...
Um famoso filantropista do início do séc. XX, Bernard Baruch, dizia com grande propriedade, “Temos direito à nossa opinião, mas não aos nossos factos”. Mas quantas são as vezes em que vemos tomadas de posição baseadas em informação profundamente errada? Podemos dizer que sempre foi assim, mas hoje há dimensões novas neste problema. Durante a maior parte do tempo da humanidade, a informação disponível era limitada, pouco acessível e o conhecimento baixo. Por isso tomar decisões erradas por causa da má informação disponível (ou indisponível) era mais ou menos normal. Pelo contrário, hoje, não há falta de informação e o conhecimento sobre a generalidade dos temas é elevado e acessível. Assim, temos a obrigação de nos informarmos bem e procurarmos emitir opiniões fundamentadas. Mas estranhamente isto é mais difícil do que parece. Todos sabemos do fenómeno das fake news. A verdade é que estas estão bem disfarçadas, de forma a parecerem ser credíveis e com origens fidedignas. Ou seja, passamos de um paradigma de ausência e má qualidade, para uma situação de abundância, quiçá até de excesso, mas também com bastante ruído, que torna difícil por vezes distinguir o bom do mau.
A solução passa essencialmente pela dúvida sistemática, pela verificação múltipla e pela procura de boas fontes de informação. Mas hoje o tema não é esse. O objetivo é sabermos como melhorar o que sabemos do mundo? Precisamos de referências de boa informação factual, com profundidade, para podermos avaliar corretamente as situações e agir na resolução dos problemas?
E atenção que não é fácil ganharmos alguma solidez nos conhecimentos. O ser humano tem alguns viés cognitivos que dificultam certos processos. Na era do Facebook e do Youtube, muitos acham que por terem visto uns vídeos ou uns posts já sabem mais que os médicos, os engenheiros e outros verdadeiros especialistas que às vezes dedicaram uma vida a determinados temas. Um conjuntos de estudos muito interessante de dois psicólogos sociais, Dunning e Kruger, evidenciam a nossa dificuldade de avaliar o que sabemos sobre um determinado assunto.
O ciclo é interessante. Há uma fase em que não sabemos nada e obviamente temos consicência disso. Depois, quando aprendemos um pouco caímos é fácil ganharmos a perceção que já sabemos alguma coisa de relevante e tendemos a sobreavaliar o nosso conhecimento. À medida que vamos
estudando mais sobre o assunto percebemos afinal que nos faltava saber muito.
Continuamos a aprofundar e então sim, ao fim de esforço e tempo, podemos dizer
que sabemos sobre o assunto.
O problema está em que
durante este percurso temos muitas vezes a noção errada do que sabemos. Normalmente a confiança é inversamente proporcional ao conhecimento e a verdade é muitas pessoas, quiçá a maioria, não produzem o esforço necessário para sair da fase em que sabem pouco, mas julgam saber muito. Isso leva a imensos juízos convencidos de serem plenos de sapiência, quando pouco mais arranham
do que o básico de alguns temas. E leva a situações caricatas, em que os media são férteis a pretexto da igualdade de pontos de vista, em que se assiste à discussão em quase pé de igualdade de especialistas e pseudo conhecedores de qualquer que se disfarça de conhecimento.
Convém por isso estarmos bem informados sobre o mundo e fazermos o percurso da curva de Dunning Kruger ou pelo menos evitarmos considerarmo-nos especialistas, quando não passamos de iniciados.
É por isso importante construirmos uma nova perceção. O mundo está melhor do que alguma vez foi, mas pode ser muito melhor e há problemas enormes que temos que resolver. Alguns resultam de sucessos enormes que tivemos, como o desenvolvimento económico que gerou um consumo excessivo de recursos e emissões enormes de gases levando aos problemas da sustentabilidade e das alterações climáticas, que são sem dúvida os maiores problemas de sempre da Humanidade. Outros problemas que resultam de situações de sucesso são a ameaça do desemprego de longo prazo devido à disrupção tecnológica e até a desigualdade extrema, que está a diminuir globalmente mas aumenta dentro dos países, sendo o resultado da distorção do mundo financeiros.
Estes são exemplos reais de problemas que carecem de ação profunda e coordenada. E são difíceis porque exigem níveis de cooperação global sem precedentes na história da humanidade. Mas a estes problemas juntam-se outros, que só são reais porque falhamos a tal compreensão do mundo em que vivemos. Muito do populismo que vemos crescer em alguns países com democracias desenvolvidas resulta precisamente do desconhecimento dos benefícios da globalização, da migração, da evolução tecnológica em áreas como a agricultura, o saneamento, a educação, a saúde.
Esta falta de conhecimento de base é terreno fértil para os populistas que, com as suas mensagens fáceis para problemas complexos transmitem uma ideia de terem boas soluções, às vezes até para problemas que não existem, iludindo muita gente e acima de tudo afastando-nos da tal cooperação global que é necessária para atacar estes problemas globais sérios e complexos e que, se não forem endereçados, podem provocar recuos significativos ao progresso das últimas décadas.
É por isso uma responsabilidade de cada
um de nós, informarmo-nos e termos também a honestidade intelectual de mudarmos de
ideia, caso os factos apontem para um caminho diferente daquele que as nossas
convicções iniciais apontavam.
Se não o fizermos, neste mundo das redes sociais e dos algoritmos, vamos sempre encontrar um grupo qualquer, que alinhe pelo diapasão do que já achamos saber mesmo que com base em informação pobre ou errada. Seremos apenas doentes de Dunning-Krugerismo, incapazes de aprender a sério. É por isso que há terraplanistas ou anti-vacinas. São absurdos num mundo do conhecimento, mas são reais e em crescimento porque o pouco que sabem é depois sucessivamente alimentado por pontos de vista fechados, que apenas reforçam as convicções anteriores dando-lhes a ilusão de que estão a aprender.
Deixo em baixo alguns links importantes que convém explorar e informação de livros muito estruturantes do pensamento sobre a realidade nestas dimensões básicas do desenvolvimento humano e civilizacional. Se tiver que escolher só um link e um só livro, sugiro o gapminder da Fundação Rosling e o Iluminismo Agora, de Steven Pinker.
Fica também uma frase importante de Max Roser, "o Mundo está muito melhor; o mundo é horrível; o mundo pode ser muito melhor".
https://www.worldometers.info/
https://www.theworldcounts.com/
https://databank.worldbank.org/home.aspx
https://ec.europa.eu/eurostat/data/database
Iluminismo Agora – Steven Pinker
Factfulness – Hans Rosling