terça-feira, 24 de maio de 2011

A Apple e a religião

Um recente documentário da BBC – Segredos das Supermarcas – apresentava diversas conclusões sobre o funcionamento do cérebro, obtidas com base em imagens de Ressonância Magnética, que evidenciavam que os produtos da Apple e de outras Supermarcas geravam para os fãs mais fervorosos dessas marcas, um estímulo nas mesmas zonas do cérebro, que os símbolos religiosos produziam nas pessoas crentes.
É interessante, mas não é surpreendente esta conclusão! Se observarmos os comportamentos do dia a dia, vemos que há ligações poderosas e que são por vezes marcadas por muita irracionalidade. É inútil contrapor vantagens do Windows ou Linux, a um superadepto do Mac OS. É inútil tentar explicar que aquele golo entrou mesmo um metro na baliza, a um fanático da equipa oposta. É tarefa quase inglória tentar demonstrar que não há evidências da existência de Deus, para um zelota da fé.
Este estado de semi ou completa irracionalidade é algo a que as marcas aspiram e muitas investem toda uma estratégia de Marketing, na construção de uma ligação mais centrada em associação de estilos de vida ou de pertença a um grupo ou credo.

Por exemplo uma marca que consegue gerar uma legião de fãs, que chegam a tatuar permanentemente o seu símbolo no corpo, tem certamente no mercado vantagens, sobre aquela marca que vende produtos de reconhecida qualidade mas que são incapazes de gerar paixões, resultando algo anódinos perante tão forte ligação emocional. Nada que as religiões não explorem há séculos, embora aí entrem factores adicionais, como o medo ou a ideia de pecado, que são factores com um potencial manipulador mais elevado, mas que estão vedados às marcas.

Mas porque é que existem este tipo de comportamentos? E porque é que é tão frequente, mesmo em pessoas esclarecidas e inteligentes, acreditarem em explicações metafísicas, sobrenaturais, transcendentes, religiosas? Bruce Hood, Professor e Director do Centro de Desenvolvimento Cognitivo da Universidade de Bristol, apresenta algumas explicações no seu livro – Supersense: Why we believe in the unbelievable. A Evolução parece ter dotado os seres humanos de um sentido de procura padrões, que lhe garantiu vantagens competitivas na forma como superou dificuldades e se antecipou a ameaças, mas que deixou resíduos na necessidade de um propósito e, em consequência, na procura de figuras de messiânicas, com autoridade e com capacidade de serem uma referência e nos guiarem.

Parece assim que o sobrenatural é muito natural, pois esse maravilhoso órgão de 1500 gramas, que nos consome mais de 20% da nossa ração diária de energia, tem uma complexidade que só recentemente começámos a sondar. Isso não quer dizer que nos devamos render a essa natureza, pois esse mesmo cérebro também encerra em si capacidade de racionalização, que nos trouxe o desenvolvimento e conhecimento actuais. Há pois, que olhar as coisas com uma perspectiva racional, pelo menos em assuntos mais importantes do que a preferência por uma dada marca ou clube e não aceitarmos sem evidências fortes, as explicações que nos derem, principalmente quando estas forem extraordinárias e sem grande aderência ao que observamos no dia a dia.

Termino com uma Ode a esta massa cinzenta que, com o tempo, será certamente capaz de se desvendar a ela própria!

Sem comentários:

Enviar um comentário